Não que eu adore o Lenine, mas fiquei com uma música dele, na cabeça (uma das poucas que conheço, assumo). Aquela voz forte, carregada de sotaque pernambucano mais que lindo, ressoou em mim, quase que o dia inteiro, e tive que vir aqui, escrever sobre ela, pra me libertar.
Interessante essa idéia né. Falar acerca daquilo que a gente quer tirar da cabeça. Quase como se, para conseguir esquecer, fosse necessário dissecar a tal coisa mal amada. Mas, quanto mais o tempo passa, mais eu percebo que esse, e somente este caminho, poderá te libertar. Isso mesmo. Falo aqui de liberdade. Mas não aquela velada, nem, tampouco a de fachada, só no papel, tal qual a Lei Áurea. Nada disso. Falo mais e além. Tem sempre algo maior. Além daquilo que se vê. Aliás, já que estamos falando de música (ãhn? Não era liberdade?), fazendo minhas as palavras do Marcelo Camelo; ‘é preciso força pra sonhar e perceber, que a estrada vai, além do que se vê’.
E também, já diria o Rodrigo Amarante; ‘que o esforço pra lembrar, é a vontade de esquecer’. Uma verdade nua e crua, traduzida em forma de linda canção, eu diria. E sem medo de estar exagerando. Aliás, sem exagero nenhum!
Bhagavan nos ensina que, para começar a aprender temos que, de fato, desaprender. Somente desaprender. Aprender a não relevar mais, todas aquelas coisas que nos foram colocadas como verdades. Não só porque um ponto possui, no mínimo, duas interpretações, mas também e principalmente, pelo fato de o sofrimento ser apenas e tão somente, uma simples perspectiva de um fato, cuja interpretação gerou alguma sentença, traduzindo esta mesma sentença produzida e seus motivos elencados, numa mera criação, dentre outras inúmeras criações, que a nossa mente é capaz de produzir, acumulando padrões e mantras pessoais, que nos impedem de viver num estado de unidade, leia-se, em paz.
Acha que perdi o juízo?! Pois então imagine a seguinte história de uma mãe (o mais adequado tipo de mãe possível, que você projete), cujo trabalho lhe tome o dia e a tarde inteira, e que, ao chegar, enfim, em sua casa, exausta, com dores no corpo devido a idade, e com diversas preocupações de qualquer ser humano responsável a lhe tirarem o sossego, se depara com o filho pequeno, que acabou de fazer uma descoberta daquelas que enchem o peito de orgulho e alegria pela nova empreitada, aos pulos e louco para mostrar suas habilidades e, tudo que essa cansada mãe consegue verbalizar, trata-se apenas de um curto e seco ‘parabéns’, sem abraços, sem festa e sem sorriso.
Como a criança se sente, depois de tal situação? Aliás, como você se sentiria? Dependendo da pessoa, é gerada, apenas, uma pequena tristeza, que logo é esquecida em decorrência de algum desenho que passa na televisão. Outra criança se sentiria desestimulada em mostrar, novamente, outra de suas descobertas para a mãe, ocasionando um possível distanciamento, entre os dois. No entanto, se a criança que estamos falando, for mais sensível, algo mais poderá ocorrer.
Tal ser em crescimento poderá pensar que sua empreitada não era tão interessante, logo, suas descobertas não são grandes coisas. Assim sendo, ou não sou inteligente o bastante, ou não sou interessante o bastante, e então, esta conclui que: “Sou uma pessoa burra que ninguém dá atenção. Será que sou amada?”. Pronto. Criou-se um primeiro mantra pessoal, que fincará suas raízes na mente daquela pequena pessoa, durante toda a sua trajetória de vida!
E veja bem meu caro(a) amigo(a) leitor(a), menciono aqui nesta história fictícia, porém nada incomum, uma mãe o mais adequada possível. Consegue imaginar a proporção disso, então, em alguém que passou por algum trauma, ou problema grave durante a vida? Sem contar o fato de que isso ocorreu, enquanto o ser ainda era pequeno. E quando ele já tiver crescido? Quantas inúmeras sentenças acerca dele próprio, esta pessoa não acumulou, ao longo da existência?
Todos nós somos colecionadores de mantras pessoais. Diariamente criamos pensamentos, na maioria das vezes, julgadores a nosso respeito, que nos impedem de levar a vida de uma maneira leve, tranqüila e harmônica, como deveria ser. Tais pensamentos ficam gravados no cérebro, e nunca parecem parar de tocar.
São ocultos, difíceis de verificar, árduos e trabalhosos de serem contestados, posto tratarem-se de enormes vícios, que a nossa mente mantém. Quase como que uma música ruim, que a gente não pára de murmurar.
Ah sim, a música. Não que a canção do Lenine seja ruim e que, por este motivo, ela tenha penetrado na minha cabeça. Nada disso. Não parei de pensar na tal música, porque ela expressa bem a simplicidade com que devemos levar as nossas vidas. “Se perdeu, procure. Se é seu, segure. Se tá mal, se cure. Se é verdade, jure. Quer saber? Apure. Quer saber? Apure”.
Quer algo mais objetivo que isso?! Quer algo mais simples que isso?!
Neste curso de despertar da consciência, pode ocorrer uma transformação profunda do seu ser. Ou ela pode ser gradativa, é bem verdade. O importante é a parte da transformação oferecida. A chama violeta está ai, pra transmutar tudo! O que era escuro fica claro. E onde havia angústias, origina-se o amor. O mais puro dos sentimentos através de nós, que somos e surgimos da mais pura luz!
É um quê de, passar a ver a vida com outros olhos, atrelado a uma total observação acerca de nós mesmos, com o intuito de engrandecer. Engrandecer o amor, e crescer sem dor. Iluminar-se para iluminar. Como quando a gente descobre aquilo que o Chico Science já cantava de que “eu me organizando posso desorganizar”.
Somos privilegiados e temos a honra de poder desorganizar o mundo, ao aprendermos a conjugar o verbo desaprender, em todos os seus tempos. Somos ilimitados. Basta observamos. Basta nos observarmos. Somente encarando o lado sombrio que abafamos, visualizando assim, a origem dessa escuridão escondida, é que seremos capazes de clarear todas as coisas.
Como curar uma doença que não se sabe a existência? Como combater um medo que se nega? Como aliviar a dor que se esconde?
“Não tá bom, melhore. Não tá bom, melhore”, diz no refrão. Conhece algo melhor que viver em paz? Eu não conheço.
E vou concluir expondo mais uma melodia linda, só que esta é do Nando Reis e, junto dele, vou (en)cantar que aqui, nós da Oneness, só queremos “pra você, o que você gosta: Diariamente”.
AUM SAT-CHIT-ANANDA PARABRAHMA PURUSHOTHAMA PARAMATHMA SRI BHAGAVATHI SAMETHA SRI BHAGAVATE NAMAHA